Édipo: Passeio de eterno retorno

Retorno sobre si, sobre suas dores, feridas, o treinamento, amarrado pelos pés, vivendo no esconderijo, a nunca mostrar quem é e como é. A situação vivida com o simbólico de queimado, fervido, oferecido aos deuses, pendurado no penhasco, levado ao fundo do mar. Não tem boa visão, encherga mal, caminha torto, tem um certo desequilíbrio, por isso segue os caminhos de estrada larga. É o que se ajusta às suas características bio-psicológicas. Possui força, energia, entendimento da vida, mas ao que está além de si, está no alto e no profundo. Vemos que o real, um real inventado, esse social compartilhado, cultural imposto ele não percebe, não concebe e nem sente no sentido de sentir que se deve ter, esse sentir obrigatório, devidamente mostrado e aceito.
Édipo passou sua vida infantil, adulta até a velhice como alguém que se teme.
É tão fortalecido dos ferimentos das moralidades esquivas e repetitivas, tantas vezes marcado na carne por violências, sofre mais por ninharias do que por ferro e fogo, gritos e lastimas. Tanto que as deusas infernais o levam, ao fim da vida, quando enfim cego, em seu mundo e longe deste, passeia no jardim das Eumenides
Ele não é assim, não percebe isso. Está alheio às moralidades, ao ethos do costume, da reprodução e hábito. Esse lugar comum dos comuns. Édipo é alguém exclusivo por ser todo excluído, se faz ao mundo cerceado, auto imposta trama de excludente. Por onde caminham suas sinapses, o entendimento, saber do conhecimento.
Dominante, forte, frágil mais das vezes é a antinomia do homem singelo, de uma singeleza instigante, nunca astuta, nunca malandra, velhaca e covarde. Nunca fora de sua mentalidade espontânea, vivaz, criativa que jamais o abandona, jamais deixa só pessoas como Édipo, livres.