A reflexão da literatura

A reflexão da literatura, de Edson Rosa da Silva, traz ao leitor uma série de 14 ensaios focados sobretudo na literatura e cultura francesas dos séculos XIX e XX, mas também com generosas contribuições aos estudos da obra do ensaísta e filósofo berlinense Walter Benjamin.



O grande destaque desta bela obra é sem dúvida o estudo da complexa figura e da obra de André Malraux. O pensador francês foi um dos primeiros entusiastas do ensaio de Benjamin "A obra de arte na era da sua reprodutibilidade técnica", que este último lhe havia enviado na tradução de Pierre Klossowski.



Acompanhar esse diálogo de gigantes nestas páginas é uma oportunidade também de revermos conceitos fundamentais de Malraux, com destaque para o de "museu imaginário", noção complexa na qual confluem uma teoria do museu na era da reprodutibilidade técnica, com uma teoria do imaginário. Hoje, com o mundo da web, essa poderosa intuição de Malraux pode-nos auxiliar a pensar em que medida nosso atual "museu imaginário" se transformou ou, se metamorfoseou, para usarmos uma expressão que lhe é cara.



As palavras de Malraux citadas por Edson ecoem em nossos espíritos: "Se as estátuas pudessem reencontrar sua alma original, os museus invocariam a maior prece que a terra jamais conheceu; se nós experimentássemos os sentimentos dos primeiros espectadores de um Duplo egípcio, de um crucifixo românico, não poderíamos deixar essas obras no Louvre."



Pensamos no sentido desse intenso processo de secularização e de colonialismo que possibilitaram e mantêm a existência desses museus. Mas refletimos também em que medida podemos falar, hoje, com a crise gigantesca e a "metamorfose" que a instituição museu atravessa, em uma nova sacralização da cultura. É como se as obras arrancadas de seus locais originais, agora, reivindicassem essas origens. É como se o genius loci que habita cada uma dessas imagens voltasse a ter vida. Edson em seu diálogo com Malraux nos ajuda a pensar essas questões urgentes.