Anjos negros

O Projeto Anjos Negros nasceu como um sonho. Literalmente. Na escuridão da noite, num soslaio de silêncio na madrugada santista, a muralista e produtora cultural Simone Anjos viu em sonhos as figuras que a inspirariam. Não à toa, a artista os carrega em seu sobrenome. Sinal de que a sincronicidade está mais presente em sua vida do que as simples coincidências.

    Se sonhar com anjos negros já parece incrível, descobrir tempos depois - por intermédio de um amigo - sobre a existência do poema “Angelitos Negros”,  escrito como um repúdio à segregação racial pelo poeta venezuelano Andres Eloy Blanco, por volta dos anos 1930, e depois musicado nos anos 1940 pelo ator e compositor mexicano Manuel Álvarez Rentería, pode ser considerado uma catarse. A pergunta principal, raiz desta emblemática obra de Eloy Blanco, soa com a indignação dos injustiçados nos versos: (...) “Mesmo que a Virgem seja branca, pinte para mim anjos negros. Pintor, se pintas com amor, porque deprecias a tua cor, se sabes que no céu Deus também os quer?”.

    E então a catarse da artista chega ao ápice, ao constatar que cada um dos seis artistas convidados para o projeto havia elaborado, por conta própria e sem direção prévia, seis versões muito diferentes de asas, cada uma representando de forma simbólica um elemento da Natureza. Ar, Água, Fogo e Terra, os quatro elementos principais conhecidos dos povos ocidentais, e ainda Madeira e Metal, também considerados elementares e primordiais pela milenar cultura chinesa.

    Foi assim, de maneira aleatória, simbólica e enigmática que o Projeto Anjos Negros se desenvolveu. Um trabalho conjunto entre razão, emoção, instinto, intuição e sincronicidade.