Branquitude e televisão

O trabalho de escrita de uma obra acadêmica é complexo e com muitos momentos de incertezas e travas, com este autor não foi diferente, mas sua gana por apresentar uma nova abordagem sobre os estudos de televisão, sair/tirar a comunidade africana e afrodescendente do lugar de objeto de investigação laboratorial e proporcionar-lhes voz e representatividade contribuíram para a entrada no meio acadêmico que se consolidou na dissertação, construto base dessa obra como dito por Amauri Mendes em seu prefácio. Também como dito pelo professor e militante negro, foi a vivência nos movimentos negros e sociais, o ativismo no Hip Hop, a hamada cultura de rua e a sapiência de estar ocupando um espaço, quando no meio televisivo, que historicamente é ocupado por um número reduzidíssimo de negros, o não deslumbrar-se pela coisa, que fez Richard Santos enxergar pelas beiradas e reconfigurar a percepção sobre o núcleo irradiador, como propôs Rosane Borges, é isso, o não negar a si e aos seus, o somar e a crença na transformação que faz você leitor ter nas mãos uma obra original e ímpar na perspectiva dos estudos de televisão.


Ainda que não queira reduzir a obra de Santos à disciplina, é sobre televisão e suas intersecções sociais que ele trata. Há muito que ativistas sociais, acadêmicos e intelectuais dos dois lados desse grande rio chamado atlântico têm-se debruçado a analisar as consequências dos fluxos e refluxos culturais desde a conformação social do que chamamos Brasil em sua relação com o continente africano. Análises feitas intramuros acadêmicos e sem uma forte relação com as comunidades envolvidas, têm sido questionadas por essa Maioria Minorizada como trata Richard Santos, cansados de serem Sujeitos Desidentificados, resolvem produzir seus escritos e publicar suas visões de mundo. Assim a contribuição à análise social que há algum tempo vem dando Santos para a diversidade do complexo pensamento crítico, e contribuindo sobremaneira para a Ecologia de Saberes transformadores da realidade e da abordagem do real. Não poderia ser diferente nesta magnífica obra. Grande foi a dúvida quanto a abordagem e o tratamento dado ao tema por Richard Santos. Justifica-se: Richard Santos, ou Big Richard, como é popularmente conhecido, vinha de uma longa experiência no meio televisivo e como artista do Hip Hop, jornalista, apresentador e produtor de diversos programas televisivos não poderia errar a mão, e deveria buscar um caminho que possibilitasse a análise crítica ao mesmo tempo em que deixasse um pouco de seu aprendizado e vivências no meio. Sua digital como costuma dizer.