Engenhos de Darléia

Rememorar é um ato sublime, principalmente quando se trata dos tempos de criança. É trazer para o presente o passado fragmentado, pedaços recuperados da memória, acontecimentos embaçados que a lembrança vai aos poucos desvelando. É um exercício gratificante quando as lembranças trazem imagem de prazer, alegria e contentamento, ou de decepção por algo que marcou profundamente o passado. É isso que Rosely Barros faz em seus Engenhos de Darléia – recortes da memória infantil recuperados de um passado distante, mas muito presentes na memória quando recorda em Olhos de Pedra de Amolar – “[…] somente o nome de Edileuza me veio à lembrança […] foi a menina mais simpática […], a que mais me cativou”. Composto por cinco narrativas breves Engenhos de Darléia, é um convite a um passeio. Nele a autora conduz o leitor ao passado, narrando suas memórias em linguagem tipicamente amazonense. Memória de criança que viveu entre alegrias e medos. Em A Procissão das Almas: “[…] pedia para levar as almas para o céu […]. E se alguma delas não quisesse ir?”, seria um desespero para ela – a narradora – que dormia sozinha no quarto. Mas no outro dia afastava o medo brincando, levantando poeira sob o luar da comunidade das Três Castanheiras. Assim, Rosely pinta seu Engenhos da Darléia com aquarela de memória infantil cheia de imaginação vivida por muitas crianças nas mais longínquas comunidades amazônicas, cheias de mitos e lendas, algumas delas desfiguradas pelos meios de comunicação que distorcem a capacidade criativa.

Encante-se com o passeio!