Gotas de Orvalho

A vida é uma “longa e sinuosa estrada” que, felizmente, nos conduz, muitas vezes, a portas que se abrem e expõem sensibilidade, mistérios e o infinito universo do compartilhamento de sentimentos e emoções.
O sopro da criação poética é o despertar de conteúdos inovadores que, invariavelmente, fazem emergir potências que não dominamos e, às vezes, sequer entendemos bem. Isso tudo é maravilhoso!
Compartilho com o Valério, desde a minha adolescência, a admiração pelo trabalho de um grupo musical (The Beatles) que, no século XXI, pode até ser considerado atemporal! As canções que ouço há décadas, e que são ouvidas entusiasticamente por jovens nos dias de hoje (mais de 50 anos desde o começo da Beatlemania), têm inspirado todo tipo de manifestação artística e ideológica. Ainda assim, e pela riqueza da fonte inspiradora, estamos diante de uma infinidade de possibilidades.
A proposta do livro do Valério evoca a sensação de ouvir as canções dos Beatles, de vez que convida o leitor a liberar e materializar sua sensibilidade por meio dos espaços reservados para a escrita do próprio leitor. Trata-se do convite a que todos sejamos “poetas nefelibatas” e nos permitamos a experiência de escrever sendo ou não escritores.
Toda manifestação que se pretende artística exige duas liberdades: uma delas a do próprio produtor de arte, a outra a do apreciador esteta. Não se deve ignorar que grandes artistas como Pablo Picasso, Salvador Dali e, antes Van Gogh, principiaram por serem severamente criticados. No entanto, qualquer arte destes hoje é devotamente admirada.
Não creio que se possa esperar doce comportamento do professor doutor Valério – este, há muitas décadas, franco admirador da grande revolução musical dos The Beatles e de outras propostas revolucionárias. Eu mesma, prefaciadora, tive momentos de susto ante a estruturação e a pontuação dos textos valerianos. Mas, há sempre que respeitar o modo de se exprimir do professor. Tal expressar-se eventualmente se choque com as regras filológicas, contudo mostram nuclearmente o sentido de liberdade do escritor – seja este “nefelibata” (morador das nuvens) ou doce amigo sempre presente junto aos seus amigos.
Este “livro interativo” pode sofrer crítica dos ortodoxos, como também pode interagir – com desenhos e textos – muito amigamente com aqueles dotados de tanta abertura quanto a que caracteriza o autor. Repito que, importante mesmo é que o artista solte as velas e navegue em liberdade por suas extensões marítimas íntimas, e que o esteta apreciador se entenda “liberadamente” com suas propostas.
Quem conhece o modo doce e amigo do Valério, fixa-se ao grande hino: “Liberdade, liberdade,/ abre as asas sobre nós”.
Flávia Domitila Costa Morais, agosto/2020.