CANIS LUPUS FAMILIARIS: UMA ABORDAGEM EVOLUTIVA E VETERINÁRIA
Descripción editorial
A família Canídea é a mais antiga dentre os carnívoros e dentre suas três subfamílias, somente a Caninae é existente, atualmente. Nesta subfamília, o gênero Canis é um dos mais numerosos e o que apresenta a maior distribuição geográfica. As espécies deste gênero possuem o mesmo número de cromossomos e podem formar híbridos férteis na natureza. Apesar dos homens modernos terem surgido muito posteriormente aos lobos, provavelmente uma associação mutualística entre estas espécies pode ter sido responsável pela extinção de diversas espécies, incluindo espécies da mega-fauna, predadores carnívoros e até mesmo hominídeos, após a invasão da Eurásia. Desde a década de 1990, acreditava-se que os cães domésticos tinham o lobo-cinza (Canis lupus) como ancestral, por compartilharem 99,8% do mtDNA. Os cães domésticos, ora classificados como Canis familiaris, em 1993, foram então classificados como Canis lupus familiaris, uma subespécie do lobo-cinza. Entretanto, é pouco provável que o lobo-cinza tenha sido o ancestral do cão domestico, pois são animais dificilmente, senão impossivelmente, domesticáveis. Provavelmente, uma espécie de lobo já extinta tenha originado tanto o cão doméstico quanto o lobo-cinza há cerca de 36 mil anos atrás, na Ásia Oriental. Apesar desta teoria ser condizente com achados arqueológicos disponíveis, é difícil corroborá-la, pois várias espécies do gênero Canis eventualmente geram híbridos férteis, podendo ter havido intenso fluxo gênico entre o cão e outras espécies. O “proto-cão” teria sido fruto de um processo de domesticação clássica, não intencional. Baseado na baixa probabilidade de domesticação do lobo-cinza, na incompatibilidade comportamental entre estas duas espécies e nos achados moleculares atuais, propõe-se a revisão da classificação sistemática do cão doméstico, seja a reversão para Canis familiares ou uma nova classificação. Mesmo que a divergência entre o cão doméstico e seu ancestral tenha ocorrido há cerca de 36 mil anos atrás, este período é considerado curto em termo evolutivos para que diferenças genéticas significativas possam ser observadas. A pressão de seleção humana foi, portanto, crucial neste processo, tendo sido determinado pelo pedomorfismo. A seleção de raças, no entanto, é recente, submetendo os cães ao isolamento reprodutivo ou barreira das raças. Os cruzamentos endogâmicos aos quais os cães foram submetidos resultaram em 370 doenças de origem genética, a maioria herdada de forma autossômica recessiva. As mudanças fenotípicas observadas nos últimos 100 anos predispuseram os cães à acondroplasia, hipocondroplasia e dobras excessivas de pele, por exemplo, tornando-os mais suscetíveis a dificuldades respiratórias, distocias e doenças dermatológicas. O comportamento humano não é perfeitamente compatível com o do cão, portanto algumas posturas agressivas do cão não são reconhecidas de forma inata pelos humanos, levando à agressividade. Geralmente estes eventos são gerados por situações ambivalentes criadas pelos humanos. A proximidade com humanos também proporcionou o aparecimento de doenças zoonóticas, sendo que, dos patógenos conhecidos de carnívoros domésticos, 92% também acometem o homem. Apesar disso, um pequeno número dessas doenças possui elevado potencial zoonótico. Inúmeras metodologias de controle eficaz destas doenças estão disponíveis, sem no entanto terem necessariamente se transformado em políticas públicas.