Althusser e seus interlocutores

A crítica a Althusser, independente de sua perspectiva, não deve negar seus méritos. Entre eles deve reconhecer que, mais do que qualquer outro pensador de seu tempo, foi ele o responsável por uma extraordinária renovação das relações teóricas de marxistas e não marxistas com a obra de Marx e Engels. Althusser, conhecendo por dentro a ortodoxia em que haviam caídos as contribuições dos militantes comunistas revolucionários sob a influência de Lenin e Stalin, levantou a voz mais alta e de forma mais consequente para propor uma nova forma de aproximação dos escritos dos clássicos do marxismo.


Terminada a Segunda Guerra Mundial, a tarefa assumida por Althusser não era simples. Quando de suas primeiras publicações o mundo já se encontrava em plena Guerra Fria. Ás tensões político-ideológicas no interior do Partido Comunista Francês e, de modo mais abrangente, na esquerda francesa e ainda na esquerda europeia ocidental faziam de quaisquer divergências com as interpretações canônicas dos textos de Marx e Engels, divulgadas pelos Partidos Comunistas europeus, objeto das mais acirradas críticas. Além disso, Althusser deveria se distinguir e se defender de críticas de intelectuais não marxistas, ainda que militantes de causas da esquerda, e de opositores competentes vindos da direita.


Nas bases e nas direções dos partidos Comunistas europeus questões ontoepistemológicas e conflitos políticos e ideológicos estiveram sempre presentes nos debates em torno do pensamento de Althusser. Entre os hispano-americanos, além destas características, nas discussões sobre Althusser se somaram os condicionantes geopolíticos impostos pelos conflitos compreendidos no conceito de Guerra Fria.