Marginàlia

Exercício de paciência do preso Roquè cujo nome é um número e o caminho que lhe resta é “uma.. Via Sacra de loucos”. Em Hospital Penitenciário, uma frasé patética se destaca pela sua real simplicidade: “melhor ter dentes postiços" que não ter nada " No conto Camanducaia - baseado no depoimento de um ex-pivete, posteriormente condenado a centenas de anos, aos 18 Hosmany, numa linguagem direta, sincopada, retrata o drama do menor abandonado que poderia se resumir numa das mais fortes frases do conto," dita pelo diretor do RPM: “Criança é como barro ! A gente pisa, amassa e molda.’’
Na Chicago brasileira em que vivemos, os contos de Hosmany são mais corajosos e revolucionários que os artigos dos jornais que não denunciam, explicam ou justificam o crime, do qual todos nós somos impunes coniventes; o de estarmos vivendo a palhaçada trágica de um país desgovernado. Crime sem grades, que será julgado pelas gerações futuras.
Por trás das barras cruzadas, um valor mais alto se levanta: o de um escritor que carrega a maldição das Geraes, onde nasceu. Como Drummond, geme Hosmany: “Minas não é palavra montanhosa, É palavra abissal. Minas é dentro e fundo... Ninguém sabe Minas..., Só os Mineiros sabem. E não dizem nem a si mesmos o irrevelável segredo chamado Minas”
Marginália é um dos grandes passos em direção à PERESTRÓIKA brasileira. Nossa última esperança.

Marisa Raja Gàbaglia