Transcrevendo a marginalidade

A poesia falada traz, na voz da poeta, a sua interpretação, suas pausas, sibilações e gritos salivantes, a presença concreta do poema que nos arremata. Mas aqui, no silêncio da página impressa, cada palavra assume um novo timbre e ritmo. A cada leitura, é a nossa voz, a dos leitores, que vai se moldando ao poema, fazendo coro à voz da autora. O livro de Jéssica Campos tem essa característica em seu favor, nele a individualidade existe, mas não apaga a voz coletiva, citando, inclusive,

nominalmente seus companheiros de trajetória. Encontramos aqui o que especifica a poeta, ao mesmo tempo em que a universaliza: sua origem, território, classe, amores e desejos. Tem ódio, e amor também. É isso que a Jéssica nos oferece:

o grito e o afago.



Edson Lopes