Teleoftalmologia, Telemedicina e Inovação

Quando o Conselho Brasileiro de Oftalmologia escolheu, em 2020, o tema Teleoftalmologia, Telemedicina e Inovação para ser o tema oficial do Congresso Brasileiro de Oftalmologia no ano de 2022, em Curitiba – PR, fiquei feliz e surpreso. Agradavelmente surpreso, por ver o quanto o CBO foi mais uma vez arrojado, saindo da zona de conforto de temas ligados às importantes subespecialidades da nossa oftalmologia e feliz porque o tema Teleoftalmologia é muito caro para mim.

Comecei a estudar Telemedicina em 1999, ainda no século passado, quando o presidente do CBO era o Prof. Dr. Marcos Ávila. Naquela época, conheci o Prof. Dr. Chao Lung Wen, atual presidente da Associação Brasileira de Telemedicina e Telessaúde, com quem tenho a honra de coorganizar este livro. O Professor Chao veio a tornar-se um amigo e incentivador, dando-me o prazer de ser meu orientador de Doutorado na USP, quando defendi, em 2009, tese sobre Teleoftalmologia na Atenção Primária. Conosco neste esforço está o estimado Prof. José Beniz Neto, ex-presidente do CBO, que criou a Comissão de Telemedicina, Tecnologia e Inovação durante sua gestão.

Sempre fui um entusiasta da tecnologia, especialmente desde o início dos anos 1980, quando ganhei meu primeiro computador (um CP-400 Prológica, que usava gravador de fita K7 como mídia externa). Da mesma forma, sempre acreditei que podemos, como médicos, melhorar a forma de cuidar de nossos pacientes. A Teleoftalmologia une estas duas paixões... o cuidar e o avançar tecnológico.

É sempre gratificante participar de uma ação inovadora como é este livro, que reúne temas interessantes para promover a reflexão e a modernização da oftalmologia no cenário da evolução tecnológica exponencial da sociedade moderna. Este livro abrange três vertentes: (1) Telemedicina, (2) Tecnologias, inovações e tendências e (3) Relatos de experiências.

O leitor terá acesso a conceitos atuais do mundo digital, intimamente ligados às mudanças que observamos na forma de nos relacionar com os pacientes. Abrange temas ainda em desenvolvimento, que moldarão a web3.0 e tem o potencial de ampliar o alcance do conhecimento médico integrado à inteligência artificial e à realidade virtual. Compreendendo o passado no desenvolvimento contínuo de tecnologias, ferramentas e aplicações, o leitor poderá entender seu papel no presente, como agente ativo em novas modalidades de assistência médica, e vislumbrar o futuro que nos aguarda e do qual, espero, possamos ser coconstrutores na busca de um mundo mais inclusivo, acolhedor e humano, tendo a tecnologia como aliada.

Reafirmamos que o ensino médico precisa incluir, na graduação, os temas aqui discutidos e exemplificados. A residência médica não pode deixar de abordar essa temática. A educação médica continuada deve ofertar aos profissionais já inseridos no mercado de trabalho as oportunidades de atualização teórica e prática em telemedicina e saúde digital. Os conceitos éticos precisam ser reafirmados e contextualizados nas novas formas de teleatendimento.

Como nos lembra o Prof. György Böhm, Platão resumiu o pensamento de Heráclito sobre o Universo com duas palavras: panta rhei, tudo flui. Vivemos em um mundo em constante evolução, em um fluxo contínuo de caminhada e progresso.

Um passo importante é a publicação das Diretrizes de Boas Práticas em Teleoftalmologia, um trabalho que virá em consequência deste livro e já está em fase avançada de discussão junto aos ilustres membros da diretoria e conselho do CBO.

Uma vez mais, o CBO se afirma e dá sua contribuição à sociedade brasileira e não só a nós, oftalmologistas, que teremos uma obra de referência para estudo e consulta, mas que poderá alcançar a graduação e a pós-graduação médicas, por tratar de temas que são universais a todas as áreas do conhecimento médico.



Bom estudo!