Lula, volume 1

O texto do Fernando Moraes é muito envolvente e gostoso de ler. Assim como em A Ilha, Na Toca dos Leões e O Mago que eu já tive a oportunidade de ler, logo no início já somos fisgados e é muito difícil de parar de ler.

Lula, assim como o texto e o livro do Fernando Morais, é também uma figura muito cativante. É impossível não ter empatia pela sua história e pelo que ele se tornou. Moraes se vale de quase duas décadas pesquisas e entrevistas, de uma proximidade muito intensa com o seu biografado. Durante um determinado momento, ele chegou a acompanhar o Lula em inúmeras viagens pelo mundo, momentos em que fazia entrevistas de mais de 20 horas seguidas, conta ele ao final do livro.

As histórias da infância do Lula são muitas e marcantes, como a viagem de mais de uma semana em um pau de arara, de Pernambuco à São Paulo, comendo apenas rapadura; os dois cômodos que dividia com a mãe, inúmeros irmãos e agregados, atrás de um bar, onde o único banheiro era compartilhado com os frequentadores do bar.

Um dado que chama atenção é o ingresso de Lula na vida política. No início ele demonizava a política e os políticos, assim como os sindicatos e os sindicalistas. Chegou também a ver o Golpe de 64 como uma Revolução, um movimento positivo que iria consertar o país. A mudança foi se dar no transcorrer da sua vivência dentro do sindicalismo.

Contudo, nem tudo são flores no livro. Em uma das passagens sobre os acontecimentos na vigília Lula Livre, montado em frente à sede da PF, em Curitiba, onde Lula ficou preso por conta dos processos da Lava a Jato, Moraes narra um episódio envolvendo um oficial da Polícia Militar do Paraná, que pretendia esvaziar o acampamento, e um Juiz Federal, integrante da Associação Juizes pela Democracia. Curioso com o fato, busquei maiores informações na internet e descobri um vídeo que registrou toda a situação. Comparando os dois, fica evidente que o autor forçou um pouco a história, inventando diálogos e desdobramento que conferem um ar muito mais emocionante do que como efetivamente se desenrolaram os fatos registrados em vídeo.

Confesso que isso frustrou um pouco a minha admiração ao autor, despertando em mim, inclusive, um certa desconfiança. Entendo que a linguagem escrita, especialmente a empregada na construção de uma biografia, permite certas licenças e o emprego de ferramentas de narrativas mais ficcionais. Mas, quando fiz o confronto, reconheço que foi difícil afastar essa desconfiança que se abateu em mim.

Eu voto 22, mas este livro é incrível.

Amei ler o livro, biografia digna de Lula. Melhor presidente que o Brasil já teve. E terá novamente, em 2022.