OS TONS DA CURA
Descripción editorial
Nas sombras da contristação, verdadeiramente afortunado é aquele que consegue ver a luz diante de si. Eu tive câncer e sobrevivi. A tormenta da dor causada pela doença pode ofuscar a fé na Divina Providência, os números são alarmantes, segundo a Organização Mundial da Saúde, a OMS, o câncer é a segunda principal causa de morte no mundo todo. Oriundo do latim “cancer”, que em português significa “caranguejo”, crustáceo que também simboliza o signo de câncer, o nome da doença é a imagem dos seus tentáculos, das suas ramificações, da força dilacerante impingindo dor e sofrimento. É uma verdade infeliz dizer que muitos de nós experimentaremos o câncer de alguma forma, seja em primeira mão como paciente ou no apoio a um ente querido através de seu diagnóstico e tratamento. Eu pensei que jamais teria. É verdade também que a doença cruel pode inspirar uma renovada empolgação pelo futuro, gratidão pela vida, desejo de alcançar novos objetivos e maior proximidade com as pessoas amadas. As mudanças são profundas, o mundo muda muito diante dos olhos de quem luta contra a doença. Cada dia vencido é uma grande vitória, ornada de luz. Não foi fácil, ninguém disse que seria. O que já era difícil ficou ainda mais difícil com a chegada do coronavírus, da quarentena e da pandemia, que por sua vez já seria difícil, mesmo sem o negacionismo, o terraplanismo, o geocentrismo, o autoritarismo, o radicalismo, o extremismo, o obscurantismo, o cinismo e vários outros “ismos” da penumbra que se abateu em cima das nossas cabeças e que jogou a favor da morte. Sob a égide das trevas engendradas pelo terror de Estado, preso dentro de um labirinto ornado de ódio e de ignorância, os dias tinham cara de travessia. Revisitando o meu passado, minha vontade de viver me fez superar todos os obstáculos que encontrei pelo caminho. Mais do que endireitar a mente, eu tive que aprender a usá-la a meu favor, sempre acreditando no final feliz. Não há no mundo remédio melhor do que a esperança. “A esperança é como o sol, que, quando caminhamos em sua direção, faz as sombras de nossos fardos ficarem para trás”, de Samuel Smiles, autor escocês do século XIX. Nos tons da crença, eu me curei. Apesar de tudo o que eu vivi, eu venci e sobrevivi para contar a história.