Revisitando 1967
O falso paradigma da paz, da divisão e da paridade
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Encarar as realidades de Israel e da Palestina como um caso colonial tem vastas implicações para a nossa compreensão do falhanço do «processo de paz». O debate académico sobre o processo de paz e as análises de progresso e fracasso baseiam-se meramente em relações de poder, nas intenções dos actores locais e das oportunidades, frequentemente carecendo da imprescindível dimensão histórica. Assim, o primeiro objectivo deste artigo é encarar historicamente o processo de paz como uma estratégia de um Estado colonial e como a resposta nativa ao mesmo.
Este ensaio afirma que o próprio «processo de paz» nasceu como conceito num determinado momento, em junho de 1967, e fez parte da tentativa do Estado colonial israelense de reconciliar o seu desejo de permanecer demograficamente um Estado democrático e judeu, após 1967, ao mesmo tempo que se expandia geograficamente, assim passando a governar mais alguns milhões de árabes.
Uma terceira afirmação revela como as elites política e militar israelenses entraram conscientemente neste dilema, ao contemplar a possibilidade de um cenário da sua própria autoria, ou de outros, que os colocaria como governadores da Cisjordânia e da Faixa de Gaza.
A partir destes três pontos, conclui-se que a solução de «dois Estados» e o processo que é suposto vir a concretizá-la são um plano israelense em duas partes, cuja lógica foi aceite, com modificações, pela coligação entre os EUA, a UE, a Rússia, a ONU, a maior parte do Estados Árabes, a liderança palestina da Fatah, a esquerda, o centro sionistas em Israel e, ainda, algumas figuras conhecidas do movimento de solidariedade com os palestinos. Foi o poder desta coligação e não a lógica da solução, que há tanto tempo mantém à tona o processo, apesar do seu notório fracasso.